Por Felipe Vaz
Meu nome é Felipe Vaz, cantor e compositor da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Em meados de 2018, após o lançamento do meu primeiro álbum, senti a necessidade de algo que me traduzisse mais. Durante o processo de composição para um segundo disco, percebi que seria impossível falar sobre mim e não falar de Duque de Caxias. As minhas referências, vivências e visão de mundo, foram todas construídas na cidade. Municiado por este sentimento, decidi dedicar a poesia e estética sonora-visual do meu próximo disco ao lugar onde nasci e fui criado. E a ele dei o nome de TERRA DE MULHER BONITA.
Foto: Reprodução Lurdinha.org.
A ideia central do disco era poder falar sobre meus amores, paixões, inseguranças, crenças, política e visão de mundo, tendo a cidade como objeto poético. Assim como é “belo” falar sobre a Garota de Ipanema, o disco mostra como é bonito também falar sobre a Terra de Mulher Bonita.
Para além do apego local, o álbum é dedicado a todos aqueles que amam, choram, sentem saudade, se frustram, e que se reconhecem nessa jornada. Um convite para mergulhar na cultura de uma das maiores periferias urbanas do Brasil. Uma iniciativa para que possamos nos identificar enquanto seres periféricos e fomentadores da cultura regional.
Tudo que me é comum, e é comum à cidade, se torna elemento literário: a religiosidade, linhas de ônibus, praças, bares, bairros e festas, que dão o tom suburbano aos mais humanos dos sentimentos. Além das figuras e ícones históricos, que são lembrados ao decorrer da obra. Não só na escrita, mas essas referências são levadas também para dentro da estética sonora e visual do disco.
Parte da minha busca pela mudança e aquilo que me traduzisse mais, foi também redirecionada para a minha sonoridade. Foi a partir desse momento que me veio a vontade de trabalhar num disco que eu pudesse demonstrar melhor as minhas vertentes musicais.
O álbum não possui um gênero determinado. Assim como o potencial artístico da Baixada Fluminense, a musicalidade do disco é plural, transmitindo diferentes recortes musicais. O álbum transita entre o disco, house, pop, synthwave, new wave, indie rock, ao samba, bossa, funk e baile. Sem perder seu rumo narrativo, propondo desafios técnicos de produção e criação artística entre gêneros tão distintos.
TERRA DE MULHER BONITA é uma jornada musical bastante ambiciosa, com experimentações e conceitos novos para a música. Porém, ao mesmo tempo, viaja muito na estética sonora dos anos 70, 80 e 90, produzindo um resgate musical com características modernas.
O álbum possui 19 faixas e 9 participações. Grande parte das músicas recebem nomes de bairros e lugares da cidade, com os quais possuo vínculo afetivo e são utilizados para localizar os sentimentos transmitidos pelo disco. Os artistas participantes também são todos da Baixada Fluminense, em sua maioria caxienses, protagonistas do cenário musical da cidade e região.
As músicas foram todas produzidas por Buzu, também nascido e criado em Caxias. Muito da sonoridade do álbum se deve ao produtor, que foi responsável pelas gravações, arranjos, mixagem e masterização.
A estética visual do disco estabeleceu uma nova perspectiva sobre as cidades periféricas. A fotografia explorava bastante a beleza existente nas periferias urbanas, que nós enquanto moradores, não conseguimos enxergar. Lugares que passamos todos os dias, que possuem seus atrativos estéticos e não nos damos conta, ou não queremos nos convencer de que existe esse tipo de beleza onde vivemos. Em harmonia com a poesia e musicalidade da obra, a fotografia do disco nos permitiu enxergar o “belo” naquilo que não é lido como tal.
Para o desenvolvimento da estética visual do disco, foram selecionadas cerca de 200 fotos* de pelo menos 20 ambientes diferentes, em 3 dias de ensaios. Todas na cidade, em lugares que são contextualizados nas músicas. Além das artes das músicas nos shows e em peças promocionais e audiovisuais. desde seu nascimento, a estética visual impressa em TERRA DE MULHER BONITA sempre foi um de seus grandes pontos.
TERRA DE MULHER BONITA foi considerado um dos melhores discos nacionais de 2022 pelo Tenho Mais Discos Que Amigos! Recebeu destaque em jornais como O Dia, Meia Hora e fui capa da sessão “Mais Baixada” do Jornal Extra. Rodei o ano de 2023 fazendo shows com DJ e banda pelo Rio de Janeiro.
Divulguei o disco exaustivamente, de toda maneira que eu pude. E como o visual do disco era bastante elogiado, sempre rolava comentários de “quando iria sair o Merch?”.
A criação da marca TERRA DE MULHER BONITA nasceu como método de divulgação do disco de mesmo nome. Trazendo aquilo que era mais pedido pelos ouvintes: camisas, bonés e bolsas. O primeiro “drop” rolou em Fevereiro de 2024.
A marca começou com poucos seguidores, enquanto engatinhava com alguns pedidos. Nos meses seguintes, de Junho e Julho, por exemplo, passamos sem realizar uma única venda. Como eu tinha meu trabalho principal, também não conseguia desenvolver a marca por mais que ela tivesse potencial para isso. A marca existia para aquelas pessoas que já gostavam do álbum e ciclos relacionados.
O jogo mudou quando a Sabryna chegou até mim e perguntou “Você faria uma bandeira do TERRA DE MULHER BONITA pra mim?”. À epoca eu trabalhava na cozinha de um hotel, Sabryna havia me visto usando a ecobag e me fez a pergunta que mudaria o rumo de tudo. Eu respondi que até tinha vontade, mas de outras estampas. Não imaginava as pessoas comprando “a logo de um álbum”. Ela me encorajou e foi a primeira compradora da bandeira TERRA DE MULHER BONITA.
A bandeira rapidamente viralizou, e eu comecei a receber mensagens de diversos interessados. A loja que há época contava com 400 seguidores foi dando saltos para mais algumas centenas. Nesse meio tempo, acabei pedindo demissão também do meu antigo trabalho por não aguentar mais o ritmo de trabalho pesado de limpeza e cozinha na escala 6 x 1.
Aproveitando o know-how dos meus amigos do @rajadadeoclin eu decidi então lançar um drop de bandeiras com a intenção de vende-las nas principais feiras do Rio de Janeiro. Investi todo meu tempo nisso e em pouco tempo eu já tinha mais de 10 modelos de bandeiras e quase 20 variações. A partir daí a loja foi ganhando seus milhares de seguidores e caminhando pelas próprias pernas. Pouco a pouco.
Com a cabeça focada na marca, eu sabia que eu só teria um volume maior de vendas se eu conseguisse produzir mais. O que não foi fácil sendo agora, além de estudante, feirante. Em novembro de 2024 lançamos novas estampas e passamos a possibilitar que os clientes pudessem ter a opção de encomendar cangas. Chegando no produto que realmente fez a marca avançar diversos degraus: a canga do jogo do bicho!
TERRA DE MULHER BONITA é insistência e teimosia.
chora agora, ri depois.
Diretamente de Duque de Caxias – RJ.